O silêncio das cores

Adauto Novaes

Muitos pensadores nos lembram que a vida não explica a obra.

Mas aqueles que têm o privilégio de dialogar com Ucha tendem  a   concluir que   esse axioma é verdadeiro apenas em parte.

A vida desta artista tão original é feita de grandes silêncios - que podem durar semanas - como se ela guardasse uma enorme desconfiança da palavra e concentrasse toda a sua força de expressão na pintura como forma privilegiada de diálogo.

De início, diálogo do pensamento com o pensamento que se traduz em imagens.

A linguagem do gesto, o movimento do corpo (sobre a tela) se sobrepõe à linguagem da palavra que é muitas vezes irresponsável, fluida, diluída.

Ucha leva o poeta e ensaísta Paul Valéry às últimas consequências: "O pintor pinta com o corpo", diz ele.


Com imaginação e um olhar poético sobre cidades, o mar e uma delicada nostalgia de antigas imagens de Minas, Ucha inventa formas que a mão copia, não como sonhos de um espírito descarnado.

Imagem para ela é corpo e o corpo "túmulo dos deuses", na bela definição de Alain.

O que ela imagina é real; ou melhor, a sua imaginação torna-se objeto, não um objeto estético qualquer pensado para agradar os olhos, mas um belo que se integra ao sublime.

Por isso, suas cidades, geométricas e saturadas de prédios e automóveis, têm a leveza de um sonho sem deixar de ser cidades.

São gestos da imaginação criadora que transformam a aparência imediata dando um sentido humano às coisas.